MAS É CARNAVAL...
“Para quem realmente gosta de carnaval triste é ver chegar a quarta-feira de cinzas. Meu coração chega a doer quando vejo os operários desmontando o palanque das ruas e retirando os enfeites.”
“Quem é você? Adivinhe, se gosta de mim. Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim: Quem é você? Diga logo que eu quero saber o seu jogo, que eu quero morrer no seu bloco, que eu quero me arder no seu fogo...”. Essa é uma das minhas preferidas de Chico Buarque, “Noite dos Mascarados”. O carnaval possui uma energia que ainda não consegui decifrar de onde vem, mas garanto que muitas pessoas concordam comigo em um ponto: São quatro dias de sedução onde tudo pode acontecer. Duvidam?
Há alguns anos eu costumava ter febres de tanta expectativa com o reinado de momo. Desde pequeno sou amante da folia. E me lembro bem do meu primeiro baile: No Jardim Peter Pan, vestido de índio. O rosto foi pintado com tintas guache e minha mãe confeccionou uma tanga indígena bacana para a ocasião. Mas era um baile infantil onde todos nós estávamos somente interessados na brincadeira no salão. Hoje continuamos amando os bailes e as marchinhas, mas sabemos que se pintar uma paquera o carnaval fica ainda mais brilhante. E como fica...
Certa vez li no jornal uma crônica muito interessante mas não me lembro o nome do autor. Era mais ou menos assim: Uma menina estava na praça da cidade no sábado de carnaval, acompanhada da mãe e da avó. A avó, percebendo que a neta olhava insistentemente para um rapaz fantasiado de Zorro, a repreendeu uma vez sem sucesso. Tentou mais uma vez e não obteve êxito, a garota parecia hipnotizada pelo cavalheiro negro. Antes de tentar a terceira, levou embora a filha e a neta. A mãe da menina, sem entender, quis saber o motivo da súbita fuga. A senhora respondeu: Eu e você caímos nessa armadilha, mas minha neta não vai cair. Três gerações apaixonando-se pelo Zorro, e em pleno carnaval?
E era isso. A história falava de três mulheres (Mãe, neta e avó) que se apaixonaram no carnaval, e por alguém com a fantasia do mascarado. Gostaria de ler novamente este texto. Tinha essa idéia da essência sensual do carnaval. Sou capaz de apostar que muitas histórias de amor assim começaram, em meio a confetes e serpentinas.
Para quem realmente gosta de carnaval triste é ver chegar a quarta-feira de cinzas. Meu coração chega a doer quando vejo os operários desmontando o palanque das ruas e retirando os enfeites. Tudo fica na sua cabeça. O gosto do beijo, as carícias, aquele fogo do momento. Ou até mesmo aquelas risadas gostosas em meio à folia. Aí só nos resta um consolo: Pensar que no outro ano teremos mais um carnaval, e certamente ainda melhor.
“... Mas é carnaval, não me diga mais quem é você. Amanhã tudo volta ao normal, deixe a festa acabar, deixe o barco correr, deixe o dia raiar que hoje eu sou da maneira que você me quer, o que você pedir eu lhe dou. Seja você quem for, seja o que Deus quiser”. Diante disso não percam tempo, o carnaval chegou mais uma vez. Vamos seguir os dizeres da música de Chico Buarque. Alegria! Viver intensamente estes quatro dias de prazer com bastante liberdade e responsabilidade. Se eu morasse no Rio de Janeiro certamente seria carnavalesco e já estaria curtindo a festa. Mas enquanto isso não acontece vou torcendo pela Imperatriz, mesmo estando nas alterosas. Bom carnaval.
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