domingo, 27 de abril de 2008

CRÔNICA

MEMÓRIAS DA CASA DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO

“Mesmo pequeno, percebi o contraste entre crianças inocentes e universitários de vários cantos e estilos, num mesmo espaço, pensando e fazendo coisas distintas.”

Tenho certeza de que meu amigo Luciano Marinho vai dar boas risadas ao ler esta crônica, tendo em vista que me considera um cara nostálgico. No fundo ele tem razão. Não que eu goste tanto de recordações, é que a maior parte da minha vida resume-se em momentos inesquecíveis apesar de parecerem tão simples, como se hospedar por cinco dias num misterioso prédio no Rio de Janeiro. Isso não chamaria a atenção de ninguém a princípio, não é mesmo caro leitor? Mas para uma criança de oito anos pode ser marcante para o resto de sua vida.

Alguns devem saber que fui integrante do extinto Coral Raízes, que fazia parte da Igreja dos Santos Anjos do Caiçara e também da Igreja de São Judas Tadeu no Bairro da Graça. Em outubro de 1986 partimos rumo ao Rio de Janeiro com o propósito de ensaiar por cinco dias. Fiquei encantado com a iniciativa, pois meu sonho naquela época era conhecer a Cidade Maravilhosa. Mas nem de longe imaginei que iríamos nos hospedar num local tão marcante quanto a Casa do Estudante Universitário (CEU), de propriedade da UFRJ.

Naquela quarta-feira ensolarada, já no Rio, não dei muita importância para o café da manhã. Tratei logo de desmembrar aquele imenso prédio de 105 cômodos localizado na Av. Rui Barbosa 762, no bairro do Flamengo. O local guardava um misto de mistério e sedução. As escadas em espiral lembravam as dos filmes de terror e a arquitetura impressionava, mesmo sem nenhum cuidado. Existia ainda um elevador daqueles de grade, antigo e desativado, junto aos enormes cômodos de lustres muito antigos.

O prédio, que nos lembra um pouco o Instituto de Educação em Belo Horizonte, foi construído em 1922 pelo Governo Federal para abrigar o Hotel Sete de Setembro. Em 1926 passou a integrar as instalações de internato das estudantes da Escola de Enfermagem Anna Nery, da UFRJ. Em agosto de 1973 passou a ser Casa do Estudante Universitário, entrando em profunda degradação devido a depredações e ao descaso. Pela Resolução 1503 de 09 de junho de 1989 o INEPAC (Instituto Estadual de Patrimônio Cultural), decretou o tombamento do prédio ressaltando seu estilo eclético e arquitetura preservada, além de ser o último ponto remanescente de visibilidade do Morro da Viúva. Hoje o prédio abriga o Colégio Brasileiro de Altos Estudos(CEBAE), após reforma realizada a partir do projeto de restauro RB 762 junto ao MINc, com patrocínio da Eletrobrás e da Petrobrás.

Dos dias alegres na Casa do Estudante me recordo com saudade das brincadeiras de pic - esconde pelo prédio,era impossível encontrar alguém num lugar daquele tamanho.Tenho ainda algumas lembranças das estudantes que nos acharam uma gracinha (apesar de estarem muito mais preocupadas com outras coisas naquele sábado), e de uma pequena apresentação que fizemos para elas lá dentro cantando duas ou três músicas. Numa noite, antes do “ritual”, houve um alvoroço em nosso quarto por saber que uma mulher dava a luz no hospital ao lado, e podíamos ouvir e perceber toda a movimentação. Mesmo pequeno, percebi o contraste entre crianças inocentes e universitários de vários cantos e estilos, num mesmo espaço, pensando e fazendo coisas distintas. Também nunca vou me esquecer de um pequeno jardim lá dentro, onde percebi num dos momentos de brincadeiras que estava perdido naquele lugar imenso .

Tenho vontade de voltar à Casa do Estudante Universitário. Não mais para subir correndo as escadarias, mas para matar em mim uma saudade que sobrevive ao tempo. E também para alimentar um sentimento de ligação que passei a ter por aquele lugar misterioso e imponente.

Leia mais sobre a história da CEU em http://www.ceu.ufrj.br/http://www.imagem.ufrj.br/

Um comentário:

Unknown disse...

Luiz, meu caro amigo! Você é muito bom!
De mais!!!


Bju!!!